quarta-feira, 24 de agosto de 2011

FORA CORONEL!!!

Se quisermos ser realmente os donos dos nossos destinos precisamos aprender a comandar as nossas vidas, e isto vale também para nossa vida profissional.

Já ouvi por diversas vezes, companheiros reclamando que somos comandados por Oficiais da Policia Militar e que a Policia Militar quer acabar com as Guardas Municipais.

Mas a pergunta é, estamos nos preparando para comandar as nossas próprias instituições?

Ou continuamos achando que quem trabalha no setor administrativo é vagabundo...

A verdade é que de nada adianta todo efetivo ir para rua, se tivermos que depender de outras pessoas para questões que são tão indispensáveis para o nosso dia a dia.

Outro dia, por exemplo, conversei com um grupo de Guardas que não podiam ir para o estande de tiro porque o laudo psicológico não estava em dia.

Ou ficamos sabendo que existem Guardas Municipais que tem uma estrutura muito boa, mas ainda não tem um Plano de Carreira, ficando as promoções de novos graduados condicionadas a vontade política local. E o que é ainda pior, o Inspetor de hoje pode ser o Guarda de amanhã!

Concluindo, ou melhor, ainda falta mais uma.

Fora os vários simpósios que já fui, onde viviam falando de coisas que a gente já está careca de saber, como Artigo 144, PEC 534, mas nada mudava.

Somente posso dizer, Graças a Deus que tem gente pensando na gente em Brasília, e que o que precisamos não é ficar gritando FORA CORONEL, mas sim trabalhar para termos COMANDANTES CAPACITADOS EM NOSSAS GUARDAS MUNICIPAIS.

Temos é que tomar cuidado sim com colegas que já estão se fechando em clubinhos, associações ou ainda empresas que se prontificam a dar aulas para nossos companheiros, mas sem o devido preparo ou pior, pegando professores a laço.

O momento é de humildade, e trabalho, muito trabalho.

Osvaldo Zuim Junior
Guarda Municipal de Jundiaí

terça-feira, 8 de março de 2011

O COMBATENTE

É noite...

O vento sopra, balançando as folhas. E trazendo junto não somente o frescor da madrugada...

Mas principalmente o cheiro, o gosto e os sons do combate que está para começar.

Paciente ele espera... Calmo...

Com uma calma que dá medo... Parecendo até indiferença.

O instinto faz com que fique a espreita, o tempo todo.

De repente, um clarão.

E o que vem a seguir se torna impossível de descrever.

Tiros disparados em todas as direções e explosões despedaçando tudo e todos.

Mas ele não se abala.

Só se movimenta calmamente até uma posição mais apropriada, e procura quais são seus alvos.

Aponta... Atira... Aponta... Atira novamente.

E um a um, eles vão caindo inertes, sem vida.

Os companheiros, aproveitando da posição fortalecida, se reagrupam e partem para o ataque.

O inimigo recua... Foge.

Ele então observa a sua volta.

Veículos em chamas... Casas destruídas.

Tanto companheiros como inimigos mortos durante o combate... Seus corpos espalhados por todo canto.

Então por mais incrível que possa parecer, uma sensação de paz domina todo seu ser... E a certeza, de aquele é seu lugar.

Osvaldo Zuim Junior.
Terceiro Sargento da Reserva do Exército Brasileiro e
Guarda Municipal de Jundiaí.

sexta-feira, 4 de março de 2011

TREINAMENTO MILITAR NAS ESCOLAS DE POLÍCIA

Várias escolas de formação para policiais, em nosso país, realizam durante o período de instrução de novos agentes de segurança pública, atividades típicas dos militares das forças armadas.

Instruções de ordem unida, continência ou sobre hierarquia e disciplina, são mais comuns do que se imagina.

O que nos leva ao seguinte questionamento:

Se as polícias têm uma função diferente das forças armadas, porque treina-los como militares?

É inegável que vários dos treinamentos realizados servem para preparar estes profissionais para o desempenho da função policial. Mas como estabelecer um parâmetro.

O treinamento militar tem um objetivo especifico. Que é o de manter a unidade de comando, porque, caso contrário, seria impossível realizar determinados feitos como mostra a nossa história militar internacional. Lembrando que, após a mudança do conceito de guerra linear (combate em locais definidos e inimigo identificado, seja pela nacionalidade ou pela cor do uniforme), para o conceito de guerra assimétrica (os combates podem acontecer em qualquer lugar e o inimigo está infiltrado no meio da população local). As próprias forças armadas estão verificando a necessidade de treinar os efetivos menores de maneira que sejam capazes de agir com uma maior autonomia, as missões são diferentes.

Os militares combatem um inimigo, enquanto os agentes de segurança têm como base a prevenção para que não aconteçam delitos, tendo o confronto somente como última opção.

Sendo assim, convido a todos para que façam uma reflexão, de acordo com os seguintes princípios:

Se para o conhecimento não há limites e a nossa competência é determinada pela legislação.

Se em primeiro lugar somos servidores públicos, ou seja, nossa primeira responsabilidade é servir as pessoas.

Se o respeito à vida e aos direitos humanos, é um dos princípios básicos para a realização do trabalho de qualquer agente encarregado de fazer cumprir a lei, segundo a ONU.

Está é a essência do nosso trabalho, este é nosso parâmetro.

Osvaldo Zuim Junior.
Guarda Municipal de Jundiaí.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O CONFRONTO

A noite parecia calma, como sempre.

Estava conversando com meu parceiro sobre alguma coisa, que agora não consigo me lembrar.

Viramos a esquina.

E foi ai que escutei uma pancada seca contra a lataria da viatura.

Pensei “só me faltava essa”. Mas, depois do segundo “pipoco” não tive duvida. Estavam atirando na gente.

Na hora não da pra pensar em muita coisa.

Lembro-me somente de ver o pára-brisa estourando, e em seguida meu parceiro reclamando de dores no ombro esquerdo.

No entanto, não dava pra saber se era alguma coisa relacionada com o vidro que havia estourado com segundo tiro, ou se ele tinha sido atingido.

Saquei minha pistola e atirei na direção da onde vinham os tiros...

Disparei seis vezes. Depois escutei um grito.

Perguntei como estava meu parceiro, e ele me disse que estava bem. Então pedi para que solicitasse o apoio de outras viaturas.

Aproximei-me com calma. A arma apontada na direção da onde tinha vindo os disparos. O coração a mil.

De repente, vi uma coisa que sei nunca vou esquecer.

Um garoto de mais ou menos 17 anos estava caído na minha frente. Esvaindo-se em sangue, e dando seus últimos suspiros antes de morrer.

E foi então que entrei em desespero.

Não pelo que tinha feito. Pois estava amparado, agira em legítima defesa.

Mas por ver alguém tão jovem, alguém que havia conhecido, alguém que acreditei que teria um futuro pela frente. Que acabou escolhendo a vida do crime, porque achava que seria alguém, mesmo que fosse para ser um criminoso.

E agora estava ali, um corpo caído no meio da rua, sem vida, mais uma vida ceifada tão cedo e de uma forma tão estúpida.

Depois disso, passaram-se muitas outras noites.

E sempre que passo por aquela rua, lembro-me do dia que fui obrigado a tirar a vida de outro ser humano.

Não somente pelo jovem que morreu naquela noite, mas porque naquela noite uma parte de mim morreu com ele.

Osvaldo Zuim Junior
Guarda Municipal de Jundiaí






ANJOS DA NOITE

À medida que a noite vai caindo um a um eles vão chegando.

São homens comuns. Pessoas que na maioria das vezes passam despercebidos no meio da multidão.

Vários deles, aparentando ter mais idade do que realmente tem.

Isto por causa de um corpo castigado pelo tempo, e um rosto marcado por noites e mais noites, cuidando dos locais que pertencem ao povo, ou patrulhando as ruas da nossa cidade.

Todos têm alguma história triste para contar.

Depois de uniformizados e armados, eles começam mais uma noite de trabalho.

Perguntar quantas noites foram passadas como esta, é perda tempo, a muito já perderam a conta.

Eles conhecem a cidade como ninguém conhece. Mas é como se estivessem em outro lugar, outra cidade.

Os pontos de referência não são somente compostos de ruas ou praças. São todos os lugares onde exista algum tipo de perigo.

Ruas mal iluminadas, becos escuros, favelas, locais onde às vezes aparecem corpos de infelizes que foram assassinados e depois ali jogados, como se nada fossem.

Apesar de tudo, eles estão lá. Velando sempre, pelo sono daqueles que muitas vezes os criticam. Chegando a dizer que não são necessários.

Desperdício de dinheiro é o que dizem...

Até o dia que o perigo ronda a porta.

Um barulho. Um vulto. O coração batendo forte.

Desesperado alguém liga, e lá estão eles. Tão rápido como se não existissem. Como se fossem fantasmas. Algo que somente é possível para aqueles que conhecem a cidade como somente eles conhecem.

Mesmo no meio do caos, gentilmente se aproximam, e atendem aos que clamam por sua presença como se fossem irmãos seus.

E após amparar aos que precisam, após cumprir sua obrigação, eles seguem. Como anjos, anjos de azul, ou melhor, anjos da noite.

Osvaldo Zuim Junior
Guarda Municipal de Jundiaí